VO(c)

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você tem a leve idéia, a mais remota imaginação de quantas pessoas eu tive que conhecer..de quantos livros eu li...de quantos rótulos, novelas, rádios e músicas&jingles eu internalizei... e de quantos foras (e de que intensidade guatemalteca - e yo soy puro guatemalteco!) eu levei, pra chegar até você e te dizer exatamente o que você quer ouvir?

você sabe quantas pessoas eu dispensei, quantos carões foram construídos e ardilosamente estampados, até que eu chegasse aqui, tão nua e inteiriça, pra que você pudesse disso tirar um proveito utilitário?

você por acaso viajou tanto quanto eu, nas estradas tão severinas e previsivelmente lindas e tristes desse brasil não sudeste, e nos caminhos de epifanias tão odisséicas desse meu coração universal, pra que estivesse assim, cheia em todos os cantos fronteiriços, tranbordando pra você beber essa sua sede de bebê animalescamente prematuro e sugante?

você por acaso foi o ouvido do meu mundo, a frase de consolo, a expressão amiga e o tapinha nas costas tão gentil e humano, durante todo esse tempo em que eu tentei me tornar eu pra você?

você já sonhou tanto, com a paz mundial, com a pacificação a todos os aflitos por comida, por bebida e por amor, que em um momento pareceu mesmo que, você estava dreaming you're life away por uma utopia?

você gritou debaixo d'água, você falou nas entrelinhas, cumprimentou e comprimentou estranhos, divaneou alto, com algum remorso, na rua, no serviço, nas rodinhas com os amigos ou sequer conhecidos, verdades aparentemente despretensiosas, sobre tudo que você sente e não dá conta?

você aceitou esse fardo que é se saber sozinho, só somente só, e mesmo assim se doou... mesmo que não sobrasse nada? mesmo que isso não te rendesse nem aplausos, nem alívio, nem conforto, nem um orgulho íntimo de ter escolhido uma altertiva boa, uma resposta certa?


você abandonou seu passado, suas metas e suas certezinhas mais ou menos irrelevantes, pra apostar vorazmente nessa vertigem que é sentir um futuro novo antes inimaginável?

você imagina e confabula, rebola e rodopeia tanto quanto eu, seu trem?

você por acaso tem alguma idéia de que você não é grandes coisas e que eu tb não (em número grau e gênero), mas que pelo menos eu sei disso e wandiscamente profano essa realidade, porque, você é sim, meu nunca, meu não?

você percebeu que todos os planos de todos os passantes apresssados nessas calçadas sujas...  pra viagens ( fuga é seu nariz, viajar é viver sem o preconceito de ver os lugares como mortos),  pra casas ( construções ou reformas, ambas importantes), eletrodomésticos ( vintage ou higy tech), obras artísticas ( de menor ou maior perenidade), árvores ( bonsais, mini cactos, que seja!) e filhos ( ah...nós de novo) ...são porque a gente, embora sozinho, gosta e quer SIM, o outro?


você tem coragem pra assumir todas essas coisas sem se lembrar do seu umbigo? você tem discernismento, desprendimento, compaixão e loucura, pra ser alguma coisa além da próxima mundanidade que o próximo dia corriqueiro lhe oferecer?

você pulsou como se nada mais fosse tão vivo e importante e contínuo, do que essa lindeza que é simplesmente querer outra pessoa, que, apenas por coincidência feliz ou infeliz, é você?

Eu besta e compassada,repetitiva nessa vivência clichê aí, pra só então poder gostar (tanto, tantooo!) de você desse jeitin.

É. Você não sabe o quanto eu caminhei... pra chegar até aqui.

Mas de que vale isso, daqui a um século?

SOBRAS.

E eu queria ser, o lanterna verde pra você, desmilinguir ou engarrafar... o que você quisesse, aliás.

Sobras, à céu aberto...

Nada é certo, deixa pra lá.

Um comentário:

  1. Com certeza esse você, quem quer que seja, não sabe quantos jogos você teve que vencer para ser campeã invicta. E agora é isso: campeã invicta. E continua jogando o bom jogo.
    =*

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